Brincadeiras
ajudam crianças refugidas a se integrarem e se adaptarem ao novo país, segundo
a diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) Rosita Milesi.
"É brincando que eles se entendem de alguma forma, mesmo que a língua não
seja a mesma do colega, eles se comunicam por meio da atividade", diz em
entrevista à Agência Brasil.
Há três
anos, o IMDH promove atividades lúdicas em alguns finais de semana para reunir
crianças refugidas e suas famílias e crianças brasileiras. O chamado Encontro
Crianças sem Fronteiras ocorreu hoje (11) em Brasília. Participaram cerca de
100 imigrantes além de outros 100 brasileiros.
"O
que a gente busca é que as crianças não se sintam isoladas porque falam
diferente, porque não conseguem se expressar bem. Estes aspectos são superados
facilmente por meio do lazer", diz Rosita. O período mais crítico de
adaptação das crianças dura até um ano, segundo a diretora. É neste período que
a instituição tenta reforçar o apoio às famílias, seja na alimentação, com
brinquedos ou com roupas. Também há um acompanhamento para que as crianças e
jovens sejam matriculados em escolas.
"Essas
crianças vieram dos seus países de forma inesperada, deixaram a sua casa, seus
amigos, todo o seu contexto", diz Rosita. "A brincadeira pode parecer
um detalhe, mas é um detalhe importante. Às vezes as famílias mal trouxeram
alguma coisa, os pais não trazem nenhum brinquedo. A criança não tem com quem
brincar, não conhece novos amigos, é um drama para ela. Às vezes só choram e
aparentemente não tem explicação. Este aspecto temos que olhar com mais
carinho", reforça.
Até o
início de 2016, o Brasil tinha 8.863 refugiados, segundo Comitê Nacional para
os Refugiados (Conare). Os sírios fazem parte da maior comunidade de refugiados
reconhecidos no Brasil. Eles somam 2.298, seguidos dos angolanos (1.420),
colombianos (1.100), congoleses (968) e palestinos (376). Ao todo são 79
nacionalidades. Segundo a representante do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Refugiados (Acnur) no Brasil, Isabel Marquez, a maior parte dos
refugiados no Brasil são adultos. "No mundo, a porcentagem de crianças é
45% a 55% dos refugiados. No Brasil, a porcentagem é menor, mas mesmo assim
significativa". Segundo ela, os menores de 18 anos são considerados
crianças.
"As
crianças refugiadas fogem de perseguição, fogem de zonas de conflito. Elas não
somente vêm para um país novo, como vêm com muitos traumas e, alguns
desacompanhados ou separados das famílias", diz. "O mais
importante é que estas crianças sejam registradas e tenham acesso a moradia e a
educação". De acordo com Isabel, o Brasil possui um bom sistema de
acolhimento, comparado a outros países. "Contrariamente ao imigrante que
vem por situações econômicas, eles fogem de guerra e eles saem sem nada e
portanto precisam de muito aqui".
O Acnur
apoia o IMDH e Isabel estava presente no evento deste sábado. O encontro
ofereceu às crianças pintura, jogos, brinquedos infláveis e atividades manuais.
Além disso, foi feito um almoço para as famílias e foi realizado um bazer e
distribuição de kits de higiene. Para Neha Zahra, 13
anos, o momento foi de encontrar amigos e se divertir. Ela veio para o Brasil
há 5 meses, com o pai, fugindo de perseguição religiosa no Paquistão.
"Minha vida é boa, temos alguns problemas, meu pai está desempregado, mas
eu gosto do Brasil", diz.
Por Mariana Tokarnia, da Agência
Brasil
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