O perfil dos refugiados e solicitantes de refúgio que
chegam a São Paulo tem mudado, segundo levantamento divulgado hoje (22) pela
Cáritas, organização da Igreja Católica que trabalha com essa população. Entre
as 3.234 pessoas atendidas pela entidade em 2016, as mulheres representavam 36%
do total, mais do que o dobro dos 13% registrados em 2013. A proporção vem
crescendo continuamente: em 2015, as refugiadas e solicitantes eram 27% do
público que chegou à Cáritas.
“Em 2013, era mais comum a chegada de homens sozinhos,
solteiros, com a intenção de depois trazer a família”, enfatiza o diretor da
Cáritas, padre Marcelo Maróstica. De acordo com o padre, esse é o perfil mais
comum entre os africanos.
Porém, por uma série de fatores, incluindo o aumento do
número de refugiados sírios, Maróstica disse que é cada vez mais comum a
chegada de mulheres sozinhas ou acompanhadas dos filhos. “Estão vindo de países
com conflito, guerra étnica. Geralmente o homem vai para a guerra. O homem
morre, e a mulher se sente obrigada a defender a família e a sair do seu país.
Em outras situações, o estupro é usado como arma de guerra”, acrescentou o
padre.
Os estrangeiros que se sentiram obrigados a deixar a Síria
foram o quarto grupo com mais atendimentos, entre as 63 nacionalidades que
procuraram a Cáritas de São Paulo ao longo do ano passado. Em primeiro lugar
estão cidadãos de Angola, seguidos pelos da Nigéria e da República Democrática
do Congo.
Vem crescendo também o número de mulheres grávidas que
chegam à organização. Em 2013, foram 10 gestantes; em 2015, 110; e, em 2016,
173. O número de mulheres que estavam com os filhos, mas sem um companheiro,
ficou em 276 no ano passado. Em 2015, havia 202 mães nessa situação e, em 2013,
18.
Escolaridade alta
Por outro lado, a proporção de refugiados e solicitantes
com ensino médio ou superior chega a 58%, o que, segundo o padre Maróstica,
contraria o senso comum sobre o tema. “Muitas vezes, quando as pessoas falam de
refugiado, têm uma visão muito distorcida: acham que refugiado não tem
escolaridade, não tem preparo. E a gente percebe que a grande porcentagem dos
recém-chegados tem ensino médio e superior”, disse.
É o caso de Prosper Dinganga Sikabaka, que deixou a
República Democrática do Congo, com mestrado na área de relações
internacionais. Hoje com 31 anos, o rapaz conta que saiu do país natal em 2013,
após ser preso e torturado devido a sua atuação política. “O país se chama
República Democrática do Congo, mas a gente nunca viu essa democracia”, disse
Prosper, após explicar que ditadores têm se revezado no comando do país em uma
série de golpes de Estado.
Casado e trabalhando como recepcionista em um hotel,
Prosper faz questão de chamar a atenção para um dos principais problemas do
país: o trabalho escravo nas minas de cobalto – matéria-prima usada na
fabricação de aparelhos eletrônicos, como os celulares. “A questão do Congo é
global”, afirma, e alerta que o dinheiro obtido com o mineral financia
guerrilhas que usam trabalho infantil e promovem estupros em massa.
Por Daniel Mello,
da Agência Brasil
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