sábado, 30 de junho de 2018

11 PERGUNTAS PARA CASTELLS


O sociólogo espanhol Manuel Castells, de 76 anos, é um dos maiores estudiosos das transformações sociais causadas pela internet e pela vida na rede. Ele diz que as sociedades precisam “ter paciência histórica para conviver com o caos por algum tempo”

O sociólogo espanhol prevê que teremos de aprender a conviver com o caos

1. Em seu novo livro, Ruptura, o senhor afirma que a ruína do sistema político no Brasil, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o Brexit no Reino Unido e a eleição de Emmanuel Macron na França apontam para o mesmo fato: a crise da democracia liberal no mundo. Por que o senhor sustenta essa opinião?

Isso não é uma opinião. É uma observação baseada numa pesquisa. Existe uma crise semelhante em todos os países em diferentes contextos, e por isso devemos explicá-la. A explicação, baseada na pesquisa, está em meu livro.

2. A crise do sistema político brasileiro se deve a ações da Justiça e do Ministério Público, que na história brasileira nunca foram tão fortes, e a uma imprensa independente. Não podemos ver a crise dos partidos políticos no Brasil mais como uma consequência do amadurecimento das instituições políticas?

Em primeiro lugar, não penso que as instituições brasileiras sejam nem mais fortes nem mais independentes que as instituições similares da Europa Ocidental ou dos Estados Unidos. É plausível a ideia de que muitos grupos de mídia no Brasil sejam menos independentes do que a BBC, o Le Monde ouo New York Times. Na realidade, eles frequentemente são mais partidários e ligados a grupos de pressão política do que em outros países. Esse é o caso também de um Judiciário altamente político. Os grupos midiáticos contribuíram para uma perseguição ao presidente Lula muito mais intensa que a um Congresso com deputados processados em alta proporção. Os jornalistas brasileiros são profissionais e tratam de informar, mas suas empresas são dependentes de grupos econômicos com interesses políticos.

3. Bolsonaro pode ser uma espécie de Trump brasileiro?

Não. Bolsonaro é um fascista, parecido com Le Pen na França. Trump é simplesmente um populista.

4. Quais são os riscos de emergência de regimes ou líderes autoritários nos países ocidentais, à semelhança dos que existem na Rússia e na China e que estão surgindo em países da Europa Central, como Hungria e Polônia?

Há riscos em alguns países, mas não nos países principais, como o Reino Unido, a França, a Alemanha ou a Espanha. Na Itália, a Liga Norte é autoritária, mas não o Movimento Cinco Estrelas.

Os fatores fundamentais das crises têm sido o racismo, a xenofobia e o medo de perder o controle. E ainda a ilegitimidade dos partidos e da política tradicional por causa da corrupção e da falta de transparência

5. Esses riscos são mais altos na América Latina pela tradição de caudilhos e líderes autoritários?

Sim, esses riscos são mais altos, e vemos isso na Nicarágua ou na Venezuela. Tudo depende, no entanto, do processo político em cada país. No Brasil, existe um controle não democrático da política pelo Congresso, que é amplamente corrupto, contando com a colaboração de alguns integrantes do Judiciário. Mas todos os indicadores mostram que os brasileiros não estão dispostos a ter outra ditadura corrupta como a dos anos 1980.

6. Qual é o papel do marketing político e eleitoral na crise de legitimidade do sistema político?

Ele contribui para uma aceleração de tendências, mas as mensagens só são eficazes quando já há uma predisposição da opinião pública em receber essas mensagens.

7. O senhor vê algum efeito colateral da globalização na crise do sistema político no Brasil, que, historicamente, é um país muito desigual?

Em meu trabalho, mostrei que a globalização teve um papel pequeno nas crises dos Estados Unidos e do Reino Unido. Em ambos os casos, a economia estava indo bem. Os fatores fundamentais foram o racismo, a xenofobia e o medo de perder controle. Isso é o que os dados mostram. Além disso, há a crise de legitimidade dos partidos e da política tradicional por causa da corrupção e da falta de transparência da classe política. Essa é a razão por que o Brasil não é diferente. A crise política é o resultado de males do sistema político e da corrupção dos políticos, amplificados pela mídia.

8. Como a emergência das redes sociais, como o Twitter e o Facebook, contribuiu para a crise da democracia liberal?

Por um lado, elas aumentam a autonomia dos cidadãos e de movimentos sociais vis-à-vis o sistema político, deslegitimando assim abusos das instituições democráticas. Por outro lado, elas amplificam movimentos de desestabilização por parte de forças não democráticas, como o Movimento Brasil Livre financiado no Brasil pelos irmãos Koch (MBL), (Charles e David Koch, bilionários americanos que financiam movimentos conservadores de direita).

9. Uma greve de caminhoneiros em maio no Brasil paralisou o país e levou a uma situação caótica de desabastecimento nas grandes cidades. A greve não tinha uma liderança única e centralizada e foi organizada por WhatsApp. Devido a esse fato, o governo reagiu com perplexidade ao movimento e a situação levou alguns dias para se normalizar. O senhor pensa que esse será o “novo normal” em nossas sociedades?

Sim, movimentos e greves podem se auto-organizar e fazem isso em todas as sociedades. Mas movimentos são frequentemente iniciados por conspirações, como parece ter sido o caso no Brasil, que manipulam as queixas legítimas dos caminhoneiros.

10. O que pode ser feito para superar essa crise de legimitidade e recuperar a confiança nas instituições democráticas? Quais são as experiências em sociedades democráticas que podem servir de inspiração?

As políticas mudam de país para país, mas as duas medidas mais importantes são controlar a politização do Judiciário e a manipulação da política pela mídia. Isso exige um governo limpo surgido de novas eleições, seguido por um acordo por uma refundação constitucional da democracia. Talvez Portugal e Espanha estejam no caminho de construir novas democracias, mas esses países estão longe desse objetivo e estão submetidos a pressões extraordinárias.

11. No Brasil, estamos também na expectativa da emergência de uma nova ordem política, enquanto a velha política ainda não morreu. As próximas eleições são vistas como uma esperança de que isso ajude no nascimento de uma “nova política”. Mas, em seu livro, o senhor sugere que essa nova ordem pode nunca emergir. Nós temos de nos acostumar a viver no caos? Essa é a melhor perspectiva para o futuro?

Eu não disse isso. Disse que não vejo uma nova ordem emergindo. Apenas analiso o que vi em minha pesquisa. O que afirmo, com convicção, é que não há necessidade de uma nova ordem emergindo a curto prazo. E que nós devemos estar preparados para explorar e experimentar sem precisar correr para falsas soluções que costumeiramente levam a ditaduras demagógicas. Nós precisamos de uma paciência histórica para conviver com o caos por algum tempo.
Por Guilherme Evelin, na Revista Época

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sexta-feira, 29 de junho de 2018

Banksy reivindica várias das obras surgidas misteriosamente em Paris


Figura emblemática da street art, o artista britânico publicou em seu Instagram algumas das obras que apareceram nos últimos dias em Paris.
Banksy, figura emblemática da street art, reivindicou a autoria de várias das obras que apareceram nos últimos dias nas ruas de Paris, como no estacionamento do Centro (cultural) Pompidou, em homenagem a Maio de 68.
O artista britânico, cuja identidade é mantida em segredo, publicou em sua conta do Instagram uma foto deste grafite, que representa um rato: "50 anos depois dos eventos de maio de 1968 em Paris. Lá onde nasceu a stencil art moderna", disse em alusão ao Museu Nacional de Arte Moderna que o Pompidou abriga.
Banksy reivindica igualmente uma obra realizada nos cais do Sena - dois ratos com chapéu-coco e guarda-chuva -, e outra que apareceu perto da universidade de Sorbonne.
"Não nos alertou, mas é nosso dever proteger sua obra", indicou Bernard Blistène, diretor do Museu Nacional de Arte Moderna. Assim, a obra será acompanhada de uma placa com o nome do artista, que também teria pintado uma silhueta com semblante triste em uma porta da casa de shows Bataclan, alvo de um atentado jihadista em 2015, que deixou 90 mortos.
No norte da capital, foi descoberto um grafite de uma menina desenhando padrões florais rosas sobre uma suástica, perto de um antigo centro de acolhimento de refugiados.
Algumas obras de Banksy batem recordes nos leilões. Uma colaboração com sua compatriota Damien Hirst ("Keep It Spotless") foi vendida por US$ 1,8 milhão em 2008 em Nova York.
Ninguém sabe o nome nem viu fotos do artista, natural de Bristol, que denuncia o consumismo, o imperialismo americano e a situação dos refugiados nas paredes do mundo inteiro, de Londres a Gaza.
France Presse



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quinta-feira, 28 de junho de 2018

Grammy aumenta número de indicados nas suas categorias principais

Bruno Mars posa com seis Grammys em foto de janeiro de 2018. EFE/EPA/JUSTIN LANE

A Academia da Gravação, entidade que organiza os prêmios Grammy, anunciou nesta terça-feira que o número de indicados nas suas categorias principais aumentará de cinco para oito artistas.
As categorias nas quais esta mudança terá efeito são as de gravação do ano, álbum do ano, canção do ano e melhor artista novo.
"Esta modificação refletirá de forma mais justa o grande número de candidatos nestas categorias e permitirá que os eleitores tenham uma maior flexibilidade na hora de selecionar o melhor do ano", indicou a instituição em comunicado enviado hoje aos seus membros.
No entanto, a imprensa especializada sustenta que a decisão tem a ver com a polêmica pelo pouco número de mulheres indicadas e premiadas na última edição do Grammy, apesar de a cerimônia ter contado com uma gama de candidatos muito diversos, entre eles Jay-z, Kendrick Lamar, Bruno Mars, Childish Gambino, Khalid e SZA.
De fato, o presidente da Academia da Gravação, Neil Portnow, lamentou em fevereiro alguns comentários que fez após a última cerimônia do Grammy, quando, diante da escassez de artistas femininas premiadas, disse que as mulheres precisavam "dar um passo adiante".
"Depois de escutar muitos amigos e colegas, entendo o dano que causou a minha pobre escolha de palavras após a última transmissão do Grammy", declarou Portnow.
O principal responsável pela Academia da Gravação anunciou ainda que será criado um grupo de trabalho para revisar todos os aspectos da instituição que possam dificultar ou impedir "o progresso das mulheres na comunidade musical".
"Nós também nos colocaremos sob os microscópios e abordaremos qualquer verdade que seja revelada", assegurou.
Um estudo divulgado este ano pela Universidade do Sul da Califórnia (USC) indicou que de 2013 a 2018 apenas 9,3% das indicações do Grammy foram para mulheres.
EFE

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quarta-feira, 27 de junho de 2018

Ponte aérea de Berlim, marco da amizade Alemanha-EUA

"Bombardeiros de uvas-passas" voavam tão baixo que pilotos e berlinenses trocavam acenos

Há 70 anos, a URSS decretou o cerco de Berlim, privando-a de alimento e energia. A saída dos Aliados foi abastecer a cidade pelo ar, na operação "Luftbrücke". Era o início de uma grande amizade.
Desde que tomou posse, o presidente americano, Donald Trump, tem submetido as relações Estados Unidos-Alemanha a um teste de estresse, países entre os quais no momento parece existirem mais diferenças do que pontos em comum. No entanto, os laços econômicos, culturais e históricos de ambos são considerados bastante estreitos para sobreviver até a esta presidência em Washington. A profundidade da amizade teuto-americana se fundamenta em especial sobre um acontecimento de 70 anos atrás.
Era primavera de 1948, a Segunda Guerra Mundial acabara há três anos. O sonho de Adolf Hitler de um reino nazista milenar e sua ideologia racista custara milhões de vidas humanas. A Alemanha jazia em ruínas, e agora os sobreviventes tinham esperança de tempos melhores.
Entretanto a sombra da Guerra Fria ainda pesava sobre a reconstrução. Os Aliados ocidentais e a União Soviética (URSS) se observavam mutuamente, com desconfiança. As tensões eram especialmente sensíveis na Berlim dividida. O oeste da metrópole era administrado pelas potências vencedoras Estados Unidos, Reino Unido e França, e o leste, pela URSS.
No três setores das potências ocidentais em Berlim, viviam cerca de 2 milhões de pessoas, como numa ilha em meio ao império soviético. Tanto a Alemanha Oriental, que circundava a cidade, como o Leste Europeu estavam firmes na mão de Moscou. Berlim Ocidental só era abastecida por uma linha ferroviária, uma autoestrada e algumas vias fluviais, atravessando o território da zona comunista.
Em 20 de junho de 1948, se iniciou uma prova de força entre Leste e Oeste, quando os Aliados decidiram criar uma união monetária, introduzindo o D-Mark, o marco alemão.
Soviéticos contra o marco alemão
A intenção era estabilizar economicamente a Alemanha através de uma moeda forte. Mas a União Soviética se recusou a aceitar a introdução do marco também em Berlim Ocidental, temendo que ela consolidasse o status especial daquela parte da cidade em meio ao território soviético, como um flanco aberto para os Aliados. O conflito latente se transforma em briga declarada.
"Assim ocorreu um racha entre as três potências ocupadoras ocidentais e o lado soviético", conta Bernd von Kostka, do Museu do Aliados, na capital alemã. "Uma política conjunta para a Alemanha se tornou impossível com a união monetária."
Na madrugada de 24 de junho, os soviéticos barraram todos os acessos à parte oeste. Como 75% da eletricidade vinha das regiões circundantes, logo as luzes se apagaram. O Bloco Comunista planejava desmoralizar os habitantes, a fim de expulsar os Aliados da metrópole dividida.
"Ninguém sabia o que estava acontecendo, nem os americanos, nem nós", lembra o berlinense Gerhard Bürger, cujas recordações, assim como de outras testemunhas da época, estão disponíveis no website do projeto Memória da Nação, da Fundação Haus der Geschichte (Casa da História).
"O medo de que os americanos nos abandonassem, de que nós, por assim dizer, fôssemos cair nas mãos dos russos, era enorme", relata.
Aliados defendem bastião contra comunismo
Os Aliados resolveram defender seus postos, ainda que se tratasse da antiga capital do inimigo recém derrotado, que levara morte e devastação a tantas partes do mundo. Os EUA viam Berlim Ocidental como posto avançado da liberdade, um bastião contra o comunismo a ser defendido.
Como os Aliados não haviam fechado nenhum contrato com a URSS sobre a utilização das vias de acesso, não dispunham de nenhum recurso jurídico contra o bloqueio. Uma opção militar não entrava seriamente em cogitação, devido ao alto risco envolvido.
Por outro lado, americanos, ingleses e franceses dispunham de três corredores aéreos garantidos. O tempo urgia, com os berlinenses ocidentais sob ameaça de morrer de fome.
"Logo começou a ser mais racionado ainda, além do racionamento normal. Era uma ingerência na vida que não podia ter um efeito mais dramático", recorda o cidadão Eberhard Schönknecht.
De comum acordo com seus aliados, o então presidente dos EUA, Harry S. Truman, decidiu realizar uma espetacular operação de salvamento: abastecer inteiramente por via aérea uma cidade daquelas proporções, com 2 milhões de habitantes, em meio à reconstrução sobre as ruínas de uma guerra mundial.
Plano mirabolante
O plano de estabelecer uma tão monumental Luftbrücke (ponte aérea) provisória foi apoiado "com ressalvas", relata Von Kostka. Mas não havia alternativa.
Em 26 de junho, os primeiros aviões da Força Aérea americana partiram de Frankfurt e Wiesbaden para Berlim. Os franceses, que acabavam de sofrer sob a ocupação alemã, precisaram de mais tempo para se decidir a favor da assistência aérea.
Contudo, em breve os aviões de transporte estavam voando ininterruptamente. A intervalos de 90 segundos, aterrissavam no aeroporto Tempelhof, no setor americano; Gatow, no britânico; e, a partir de dezembro de 1948, no aeroporto Tegel, recém ampliado pelos franceses.
A parte sitiada de Berlim precisava diariamente, em média, de pelo menos 5 mil a 6 mil toneladas de gêneros alimentícios e carvão. A maior operação transcorreu entre 15 e 16 de abril de 1949, quando, no espaço de 24 horas, 1.400 aviões entregaram quase 13 mil toneladas de carga.
Os pilotos da ponte aérea estavam mobilizados constantemente, muitas vezes esgotados, arriscando a vida para aterrissar na cidade sitiada, independentemente das condições meteorológicas. Algumas máquinas sofreram acidentes. As movidas a hélices, apelidadas pelos berlinenses de Rosinenbomber (bombardeiros de uvas-passas), sobrevoavam a cidade tão baixo ao aterrissar, que tripulação e cidadãos podiam trocar acenos.
Com paraquedas improvisados, os pilotos jogavam chocolates e chicletes para as crianças. "Na época, o sentimento em relação à Luftbrücke entre nós, jovens, era fantástico", recorda o berlinense Günter Schliepdiek. "A simpatia pelos americanos no nosso meio era, sem dúvida, muito, muito grande."
Berlinenses determinados
Não apenas a façanha logística dos Aliados foi decisiva, mas também a força de vontade dos sitiados. Na página multimídia do projeto Memória da Nação, o historiador suíço Walther Hofer descreve a situação no inverno, quando cada casa só tinha uma hora de eletricidade a cada 24 horas, pois era preciso trazer pelos ares o carvão para as usinas elétricas.
"O horário mudava de semana para semana, de forma que, dependendo do caso, só dava para cozinhar a única refeição quente do dia à 1h da manhã." Não se podia sequer falar de calefação. "Foram privações inacreditáveis que a população teve que aguentar", avalia Hofer, docente da Universidade Livre de Berlim nos anos 50.
Em 9 de setembro, num discurso histórico, o prefeito de Berlim Ocidental, Ernst Reuter, apelou às potências ocidentais para que não deixassem a cidade à sua sorte.
"Povos do mundo, povos da América, da Inglaterra, da França: olhem para esta cidade e reconheçam que vocês não devem, não podem entregar esta cidade e este povo", apelava o social-democrata ao microfone, diante das ruínas do parlamento, o Reichstag.
Modelo para assistência de crise, hoje
A cada dia em que mantinham a ponte aérea, os Aliados ocidentais conquistavam mais simpatia da opinião pública internacional, enquanto caía a reputação dos soviéticos. Por fim, o ditado Josef Stalin reconheceu não ter como vencer aquele pôquer de poder.
Em 12 de maio de 1949, o bloqueio foi suspenso, após negociações secretas com Washington. Até então, as Forças Aliadas haviam levado mais de 2,1 milhões de gêneros de primeira necessidade à cidade, em cerca de 260 mil voos, numa verdadeira proeza de logística. Não só para os berlinenses, mas para todos os alemães ocidentais, a ponte aérea tinha um enorme significado simbólico e psicológico.
Os alemães se sentiram novamente parte da comunidade de valores do Ocidente, explica Von Kostka. "Os alemães não mais viam os Aliados, em primeira linha, como forças ocupadoras, mas antes como foças protetoras."
Da Luftbrücke à amizade transatlântica com os EUA bastou um pequeno passo. Von Kostka espera que essa conexão não sofra danos duradouros sob a política externa de Trump. Ele considera a ponte aérea de Berlim também um modelo de como prestar assistência nas atuais regiões de crise e de conflito, por exemplo na Síria.
"Pode-se ver como o abastecimento pelo ar é perfeitamente possível. E com a capacidade de transporte dos aviões de carga atuais, se poderia levar a mesma quantidade que a Luftbrücke  a qualquer cidade do mundo, com uma fração do número de voos", diz.

 Deutsche Welle


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terça-feira, 26 de junho de 2018

Einstein tinha razão inclusive além da Via Láctea


A Teoria Geral da Relatividade, formulada por Albert Einstein há mais de um século, demonstrou agora funcionar também em galáxias além da Via Láctea, informou o Observatório Austral Europeu (ESO) em comunicado.
Uma equipe internacional de astrônomos combinou dados do telescópio espacial Hubble da Nasa com os do VLT (Very Large Telescope) do ESO no Chile e seus resultados mostram que a gravidade se comporta como Einstein previu na sua Teoria da Relatividade Geral em escala galáctica.
Para o estudo foi usada a galáxia ESO 325-G004 que atua como uma forte lente gravitacional, distorcendo a luz que provém de uma galáxia distante que se encontra atrás dela e criando um Anel de Einstein ao redor do seu centro.
Comparando a massa da ESO 325-G004 com a curvatura do espaço a seu redor, os astrônomos descobriram que a gravidade nestas escalas de distâncias astronômicas se comporta segundo o predito pela relatividade geral, o que "descarta algumas teorias alternativas da gravidade", segundo a nota.
Foram utilizados dados do VLT do Chile para medir quão rápido as estrelas se moviam do ESO 325-G004, o que permitiu inferir quanta massa deve haver na galáxia para manter as estrelas em órbita.
Além disso graças ao Hubble observaram um anel de Einstein resultante da distorção exercida por ESO 325-G004 na luz procedente de uma galáxia distante.
"Observando o anel, os astrônomos puderam medir como a luz (e, portanto, o espaço-tempo), se desviam pela enorme massa da ESO 325-G004", detalhou a nota.
A teoria da relatividade geral de Einstein prediz que os objetos deformam o espaço-tempo a seu redor, fazendo com que qualquer luz que passe perto seja desviada.
O diretor de estudo Thomas Collet da britânica Universidade de Porstmouth disse que graças aos dados do VLT e do Hubble se mediram de duas formas diferentes a força da gravidade.
"O resultado é justamente o que prediz a relatividade geral com uma incerteza de apenas 9%. Esta é a prova mais precisa da relatividade geral fora da Via Láctea realizada até o momento. E utilizando apenas uma galáxia!", explicou Collet.
A relatividade geral foi posta a toda prova com "excelente precisão" em escalas do Sistema Solar.
No entanto, não haviam provas tão precisas em escalas astronômicas maiores. Provar as propriedades de longo alcance da gravidade é de vital importância para validar o modelo cosmológico atual.
Estas descobertas, acrescenta o comunicado, podem ter grandes implicações para os modelos de gravidade alternativa à relatividade geral, que predizem que os efeitos da gravidade na curvatura do espaço-tempo "dependem da escala".
Assim a gravidade deveria se comportar de maneira diferente em escala de grandes distâncias astronômicas em relação às escalas menores do Sistema Solar.
No entanto, Collett e sua equipe descobriram que é pouco provável que isto seja assim, a menos que estas diferenças só aconteçam em escalas de distâncias de mais de 6.000 anos luz.
O professor Bob Nichol, da Universidade de Porstmouth e membro da equipe, afirmou, por sua vez, que "é muito satisfatório utilizar os melhores telescópios do mundo com o objetivo de desafiar Einstein e averiguar, ao final, quanta razão ele tinha".

EFE


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