O sucesso da implementação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
do Ensino Médio passará por mudanças na formação de professores e adaptações
nas escolas, apontam especialistas ouvidos pela Agência Brasil.
O documento, que vai orientar os currículos dessa etapa e estabelecer as
habilidades e competências que devem ser desenvolvidas pelos alunos ao longo do
ensino médio em cada uma das áreas, foi entregue pelo Ministério da Educação
(MEC) ao Conselho Nacional de Educação (CNE).
A BNCC do ensino médio é organizada por áreas do conhecimento:
linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. Apenas as
disciplinas de língua portuguesa e matemática aparecem como componentes
curriculares, ou seja, disciplinas obrigatórias para os três anos do ensino
médio. Os alunos deverão cobrir toda a BNCC em, no máximo, 1,8 mil horas. O
tempo restante deve ser dedicado ao aprofundamento no itinerário formativo de
escolha do estudante.
Para o diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos, essas
mudanças vão exigir muito investimento na formação de professores e um
“repensar da formação de professores no Brasil” para que haja uma integração
entre as disciplinas.
“Quando você faz um trabalho por área de conhecimento que reforça o
caráter da interdisciplinariedade, você tem que investir muito na formação de
professores. Hoje, como o professor de química é formado sem ter um diálogo
direto com o professor de física ou biologia, que fazem parte da mesma área de
conhecimento, por exemplo, agora para dar conta desse novo ensino médio, eles
terão que se integrar já dentro da universidade”, diz.
Segundo ele, a mudança vai ter impacto nos currículos das licenciaturas.
“As coordenações dessas áreas vão ter que sentar e repensar. Não é que não vai
mais ter professor de química, física e biologia, mas vai ter que haver um
esforço para integrar esses conhecimentos”, diz.
A formação dos professores deve ser priorizada também na visão da
pedagoga Anna Helena Altenfelder. “Não só os professores, mas toda a estrutura
da escola que hoje é pensada por disciplina e não por área de conhecimento.
Então, temos um desafio grande”, diz a presidente do Conselho de Administração
do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
(Cenpec).
Ela também aponta um possível acirramento das desigualdades na educação
como um dos riscos da nova base para o ensino médio. “Sabemos que os estados
têm condições diferentes tanto técnicas como financeiras para construir seus
próprios currículos. Então, a questão dos itinerários deve ser melhor definida
em um apoio maior para os estados”, diz. O MEC se comprometeu a elaborar um
guia de orientações para ajudar os estados na elaboração dos itinerários
formativos.
Aperfeiçoamentos
A BNCC do ensino médio deverá ser analisada e aprovada pelo CNE e
homologada pelo MEC antes de o documento começar a valer. O conselho irá fazer
uma consulta pública em plataforma digital e audiências para colher sugestões
da sociedade antes de submeter o texto à avaliação dos conselheiros.
A presidente executiva do movimento Todos pela Educação, Priscilla Cruz,
considera que o CNE deve especificar melhor a forma como as redes vão se
organizar, além de estabelecer o que é obrigatório ou não e deixar mais clara e
objetiva a redação das habilidades previstas para serem alcançadas pelos
alunos.
“Há uma impressão que o ensino médio está 'menor' pela falta de
objetividade nas habilidades, é muito dependente da implementação pelos
estados, não há um plano de implementação progressiva que ajude as redes a se
ajustarem”, diz. No entanto, ela considera positivo fato de o texto prever a
formação mais integrada, “direcionando para mais profundidade, recomendando
outros espaços de aprendizagem e formatos de aula, dando características
juvenis ao ensino médio”.
O conselheiro do CNE Cesar Callegari, presidente da comissão que vai
analisar a BNCC, também considera que o colegiado terá que complementar o texto
entregue pelo MEC. “A base está incompleta, está um documento bastante genérico
e, no meu modo de entender, não atende às expectativas e necessidades do ensino
médio no Brasil”, diz.
O Ministério da Educação já instituiu o Programa de Apoio à
Implementação da Base Nacional Comum Curricular para apoiar os estados no
processo de revisão ou elaboração e implementação de seus currículos alinhados
à BNCC. Segundo o MEC, no primeiro ano de execução, serão repassados às
secretarias estaduais cerca de R$ 100 milhões para a implementação da base.
Agência Brasil
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