Seja para ter uma visão mais intimista e particular do universo poético de um artista e suas obras, seja como registro de um período histórico, como o vivenciado hoje, ou sobre as singularidades do mercado, muitas são as opções
Na indústria cinematográfica, as produções que partem
das artes plásticas ganham espaço não apenas entre um público interessado pelo
tema, mas nas diversas plataformas de streaming e nas redes sociais. Seja para
ter uma visão mais intimista e particular do universo poético de um artista e
suas obras, seja como registro de um período histórico, como o vivenciado hoje,
ou sobre as singularidades do mercado, muitas são as opções.
Professor da Faculdade de Comunicação da Universidade
de Brasília (UnB), Marcelo Feijó destaca que existem algumas razões para esse
intercâmbio entre o audiovisual e as artes plásticas, principalmente a arte
contemporânea, “feita para ser documentada”, como comenta o professor.
“Historicamente, dentro da produção artística, esse diálogo existe como
instrumento de divulgação. É preciso fazer esse material circular e que esses
pensamentos produzidos pelos artistas cheguem ao público, que façam parte da
vida social, do sistema educacional”, pontua.
Chegou um determinado momento, inclusive, em que a
arte contemporânea se misturou tanto com as artes audiovisuais, que novos
caminhos e novas possibilidades foram abertas. “Contudo, têm alguns problemas.
Às vezes, as experiências a partir da documentação da arte e dos museus ficam
superficiais. E é preciso reconhecer que são linguagens diferentes e, por mais
que possam se sobrepor, se articular e possibilitar novos caminhos, as artes
plásticas têm uma necessidade de o público estar presente para que ele viva
aquilo, e aí há uma dificuldade de transpor essas sensações e vivências”.
Para despertar a curiosidade do público e, sobretudo,
para contribuir com o trabalho dos arte-educadores, munindo-os de material
audiovisual, a cineasta Malu de Martino revisitou um conteúdo que produziu nos
anos 1980 para criar a série Tela sobre tinta. Composta por cinco episódios de
meia hora cada, a produção retrata a trajetória de artistas brasileiros de
grande importância no cenário das artes plásticas. São eles Anna Bella Geiger,
Luiz Aquila, Athos Bulcão, Celeida Tostes e Farnese de Andrade. Os capítulos
são exibidos na UTV (canal 11 da NET) sempre às quintas-feiras.
Os nomes escolhidos para compor o projeto, além de
terem impactado uma futura geração de artistas, como Tunga e Ernesto Neto,
também têm um papel crucial na educação de artes plásticas. “Esse elenco que
escolhi para a primeira temporada tem grande importância na educação de artes
plásticas. Minha intenção é fazer um acervo para que os arte-educadores tenham
acesso a isso, por isso a UTV abraçou esse projeto”, comenta Malu.
No decorrer dos 30 minutos, a cineasta mergulha na
trajetória de cada artista, construindo um perfil audiovisual. São depoimentos,
exposições e os diversos momentos da carreira. “Com certeza, a ideia é que seja
um gatilho para o conhecimento da obra desses artistas”, detalha Malu.
No caso de Athos Bulcão, a cineasta também partiu para
explorar a diversidade de técnicas usadas pelo artista. O documentário visita
as obras de Athos em Brasília e no Rio de Janeiro, além de trazer registros da
exposição que comemorou seu centenário. “Das fotomontagens aos figurinos para
teatro, do Sambódromo à Catedral de Brasília, o documentário visita a obra de
Athos em seu amplo espectro. Nas palavras de Athos Bulcão, em entrevista
gravada pela diretora Malu de Martino, em Brasília, em 1998: “Não tem esse negócio
de inspiração não! Arte é como dizia Leonardo da Vinci: Arte é cosa mentale”.
Momento histórico
Qual a necessidade da arte? Como a pandemia afetou seu
trabalho, sua rotina, sua vida? A partir dessas e de perguntas similares, o
diretor Fabio Galvão e a produtora Gabriela Weeks, da Galvão Filmes, criaram
uma série de minifilmes com diversos artistas intitulada Pandemiarte. Com
alguns episódios disponíveis no canal Curta! e o trabalho completo publicado
nas redes sociais do projeto, os dois instigaram nomes de diversas áreas da
cultura a pensar e refletir sobre o momento atual. “Sem a arte numa pandemia,
estaríamos muito piores do que estamos”, afirma Gabriela.
Cada artista foi convidado a participar da sua
maneira. Por vezes, através de respostas diretas para a câmera, somente com os
trabalhos e a voz, ou a escrita, artistas plásticos, músicos, atores,
fotógrafos, escultores, poetas e escritores compartilharam a percepção deste
momento histórico. Com participação do músico Dado Villa-Lobos, dos artistas
plásticos Franklin Cassaro, Marcos Chaves, Marlos Bakker e Ricardo Becker,
entre outros, Gabriela explica que os nomes surgiram de maneira “pandêmica”, um
puxando o outro, sem a chancela de um curador. “Uma pandemia de arte na qual um
vai contagiando o outro”, descreve. “Foi interessante ver que as pessoas
entraram na proposta, desde alguém famoso até alguém que está na rua jogando
bolinha para o ar. A arte é transcendente”, completa Galvão.
O diretor explica ainda que a narrativa, apesar de ter
um começo, meio e fim, não segue uma hierarquia específica. Foi uma criação em
conjunto com os artistas — e de maneira remota. “Como se a gente estivesse
cedendo um espaço para ele ocupar e cada artista é convidado a ocupar da
maneira que quiser. É uma forma de nos fazermos juntos e de trafegar pelo
universo da pessoa guiados por ela”, detalha Galvão.
Ao todo são 30 minifilmes e eles não pretendem parar.
Além de produzir com nomes internacionais, os dois almejam, um dia, fazer uma
exposição física com o material. “Vejo a arte como uma entidade. Ela é vaidosa.
Gosta muito de atenção e, seja a vaia ou os aplausos, o que a afeta, na
verdade, são seu uso indevido e a indiferença”, avalia Galvão. “Não consigo
viver sem arte. Ela faz a gente perceber a poesia da vida. A vida é ordinária,
e a arte faz a gente perceber o que é extraordinário”, acrescenta Gabriela.
Para assistir
Abstract
Onde assistir: Netflix
Em duas temporadas, o público poderá acompanhar como
pensam e como criam designers de diversas áreas. O ilustrador alemão Christoph
Niemann, o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels, o fotógrafo Platon e a designer
Paula Scher são alguns dos protagonistas dessas histórias
Tales by light
Onde assistir: Netflix
Série documental que revela a jornada de fotógrafos
por lugares inexplorados e culturas pouco conhecidas no mundo.
Saving
Banksy
Onde assistir: YouTube
A partir das obras de Banksy, o documentário discute o
impacto da street art e os processos de validação de algo como arte.
O sal
da terra
Onde assistir: Globoplay
Indicado como um dos melhores documentários no Oscar
de 2015,
O sal da terra conta a história do fotógrafo
brasileiro Sebastião Salgado. A narrativa é guiada pelo olhar de dois
diretores, Juliano Salgado, filho de Sebastião, e o alemão Wim Wenders.
Laerte-se
Onde assistir: Netflix
Primeiro documentário brasileiro da plataforma de
streaming, Laerte-se mostra as transformações, os dilemas e os pensamentos da
cartunista Laerte Coutinho.
Inhotim —
Trabalho de Cildo Meireles, presente no documento sobre o Instituo Inhotim
Onde assistir: Netflix
Série documental que apresenta artistas e obras
contemporâneas do maior museu a céu aberto da América Latina. Participam desde
nomes nacionais, como Tunga, Cildo Meireles e Claudia Andujar, como
internacionais, como Olafur Eliasson.
The price of everything
Onde assistir: HBO
O documentário mostra como o dinheiro influi no mundo
da arte contemporânea e o furor que causa na sociedade. O público conhecerá
colecionadores, leiloeiros, marchands e uma ampla gama de artistas como Jeff
Koons, Gherard Ritcher e Larry Poons.
A
história oculta das obras de arte
Onde assistir: Canal curta!
Os segredos por trás das obras de mestres como
Rembrandt, Leonardo da Vinci, Watteau, Raphael e Poussin são analisados, no
decorrer de seis episódios, por alguns dos mais importantes especialistas em
arte do mundo. O trabalho foi uma iniciativa do Museu do Louvre em Paris.
Correio
Braziliense
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