domingo, 13 de agosto de 2017

Matthew Willman, o fotógrafo do Mandela mais íntimo

Imagem cedida pela Fundação Nelson Mandela na qual aperecem ícone da luta contro o apartheid, Nelson Mandela (esq.), o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton (dir.) e o fotógrafo Matthew Willman (centro). EFE
Durante dez anos, a partir de 2003, o jovem Matthew Willman fotografou inúmeras vezes Nelson Mandela para a fundação que tem o nome do líder sul-africano, e são dele muitas das imagens mais emblemáticas dos últimos anos da vida do histórico presidente da África do Sul, como a de suas mãos que ilustrou, em 2006, uma campanha global contra a Aids.
O fotógrafo publicou suas fotos em seis livros, e seus retratos protagonizaram inúmeras exposições sobre o pai da democracia sul-africana. Além disso, foi o autor dos registros pelos quais o mundo conheceu um Mandela mais cativante e que promoveu, já nos últimos anos de vida, várias causas sociais sem deixar de representar a aposta pela justiça que sempre o caracterizou.
"Acredito que estas imagens têm um papel importante na promoção de seu legado, de valores como a paz, a reconciliação, a esperança", disse Willman, que começou a fazer aos 24 anos um trabalho paradoxalmente inédito sobre uma figura tão importante.
"Antes de eu começar a trabalhar com a fundação, só havia imagens jornalísticas de Mandela, de renomados fotógrafos que fizeram grandes retratos, mas meu trabalho era o de criar memória e elaborar um material através do qual Mandela pudesse falar após sua vida", acrescentou, em entrevista à Agência Efe.
Willman destacou que não tinha pontos de referência para o trabalho, "porque ninguém tinha se encarregado de algo parecido antes".
"Não estava preso ao que o mundo via em Mandela, foi assim que criei a minha própria história", contou ele, que ressaltou sua inexperiência como fator que contribuiu para a originalidade com a qual retratou o líder.
Além do olhar pacífico de quem um dia foi o guerrilheiro de aparência feroz mais temido da África do Sul branca, Willman encontrou um aliado inestimável em suas mãos.
"De repente, ele me disse: olhe essas mãos! Essas mãos grandes, maravilhosas, as mãos que abraçaram o inimigo, as que não puderam tocar sua mulher durante 27 anos, as mãos que agarraram as barras frias das celas de Robben Island", lembrou.
E foi assim que as mãos de Mandela ganharam o valor icônico que terão para sempre.
Apesar de sua pouca experiência como fotógrafo, o rapaz que começou a fazer fotos de Mandela sabia mais sobre o retratado do que todos os profissionais o registravam há anos.
Willman o viu pela primeira vez quando tinha 15 anos, pouco após a morte de sua mãe, quando foi estudar em um colégio interno. Foi durante um ato na cidade de Durban.
"A cerca de cem metros de onde eu estava, um homem subiu no palco. Não sabia quase nada sobre ele, mas vi imediatamente a figura de um avô, alguém a quem querer bem, com quem se identificar", disse.
Aquela sensação reconfortante em um momento difícil fez Willman seguir os passos de Mandela. Durante 18 meses, viveu na prisão de Robben Island, onde 'Madiba' passou 18 anos, acampou nos povoados de sua infância e conheceu o entorno e a cultura de onde vinha.
"Demorei nove anos e meio para apertar a mão desse homem", contou Willman.
"Quando você está longe de alguém e finalmente consegue se aproximar após dez anos, você procura intimidade, como em qualquer relação, quer que seja real, e todos os anos que passei nos povoados, em todas as partes, me deram um conhecimento profundo de quem era o homem", frisou.
Seu foco no Mandela relaxado da vida privada, frente ao dramatismo jornalístico das imagens públicas, tem a ver com um dos grandes atrativos de sua figura.
"Não eram os grandes momentos públicos, mas sim os privados, os que me demonstraram que o homem que víamos em público era o mesmo que o que eu via em particular", argumentou.
EFE, Marcel Gascón


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