A família Mundrucu não aceitou ser barrada de uma área exclusiva para brancos no navio Telegraph |
Era um dia frio e chuvoso de novembro de 1832 quando o imigrante brasileiro Emiliano Mundrucu entrou no barco a vapor Telegraph com sua mulher Harriet e sua filha Emiliana, de apenas um ano. Segundo registros históricos, a família acompanhava o brasileiro em uma viagem a trabalho da costa de Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos, até a ilha de Nantucket.
Durante a travessia, Harriet, que se sentia mal,
tentou buscar abrigo com sua filha numa área do navio exclusiva para mulheres —
mas as duas foram barradas. O motivo? Eram negras, e a "cabine de
senhoras", um ambiente confortável com beliches privativos, só permitia
mulheres brancas.
Naquele momento, práticas segregacionistas separando
brancos das pessoas "de cor" cresciam no norte dos Estados Unidos,
onde a escravidão já não era permitida como no sul do país. O objetivo era
manter a ideia de inferioridade dos negros mesmo após sua libertação,
preservando a estrutura de privilégios e dominação em favor dos brancos.
Esse sistema se intensificou pelo país após a completa
abolição da escravidão em 1865, em um regime formal de segregação que só foi
proibido pelo Congresso americano um século depois, em 1964, após intensa luta
negra por direitos civis.
Muito antes, porém, a família Mundrucu, de pele parda,
não aceitou passivamente ser barrada e o episódio acabou dando origem a um
processo judicial pioneiro contra a segregação racial nos Estados Unidos.
A ação impetrada em nome do brasileiro repercutiu
amplamente na época, mas depois caiu no esquecimento e apenas nos últimos anos
foi redescoberta por historiadores.
O caso foi parar na Justiça depois que Harriet
insistiu em entrar no local com sua bebê, enquanto Mundrucu discutia com o capitão
do barco, Edward Barker.
"Sua mulher não é uma senhora. Ela é uma
N*", disse o capitão a Mundrucu, usando uma expressão extremamente
ofensiva para denominar pessoas negras.
O impasse chegou a ser momentaneamente interrompido
porque uma tempestade obrigou o barco a retornar à costa. Ao voltar à
embarcação no dia seguinte, no entanto, o casal tentou mais uma vez que Harriet
e Emiliana viajassem protegidas, ao invés de usarem a cabine da parte da frente
do navio, um ambiente comum para homens e mulheres em que os passageiros tinham
que dormir em colchões, direto no chão molhado.
Mundrucu argumentava que elas tinham direito ao local
mais confortável porque ele havia pago a tarifa mais cara para a viagem. Diante
da irredutibilidade do capitão, que mandou a família descer do barco, o
brasileiro anunciou que levaria o caso à Justiça.
De acordo com os arquivos do processo, Mundrucu
prometeu "go and get a writ out immediately" — expressão que poderia
ser traduzida na linguagem atual para: "Nos vemos no tribunal".
Foi assim que teve início em Boston, capital de
Massachusetts, um processo movido por Emiliano Mundrucu contra o capitão Edward
Barker, por quebra de contrato, caso que recebeu cobertura na primeira página
de jornais de estados como Nova York, Pensilvânia, Maryland, Carolina do Norte,
e repercutiu até na Europa.
O renomado abolicionista inglês Edward Abdy, por
exemplo, condenou a "aristocracia da pele" de Boston ao reportar o
caso para a imprensa britânica, conta o historiador sul-africano Lloyd Belton,
que em dezembro publicou um artigo sobre a batalha judicial de Mundrucu na
revista acadêmica Slavery & Abolition.
Belton estudou a vida de Mundrucu em seu mestrado na
Universidade de Columbia (EUA) e agora aprofunda sua pesquisa em um doutorado
na Universidade de Leeds (Reino Unido).
Embora pouco conhecido hoje, ele diz que o processo
movido pelo brasileiro é a ação mais antiga contra segregação racial que se tem
informação até o momento nos Estados Unidos. Até essa descoberta, a
historiografia sobre o tema indicava que esses processos começaram mais tarde,
no início dos anos 1840.
Mas por que justamente um brasileiro estaria por trás
de uma ação inédita como essa? A resposta exige um mergulho nos diferentes
tipos de discriminação vigentes nos dois países e na trajetória incomum de
Mundrucu — um revolucionário pernambucano que deixou o Brasil para escapar da
execução após lutar na fracassada Confederação do Equador, tentativa de criar
em 1824 uma república independente no Nordeste do Brasil e que ganharia esse nome
pela proximidade do local com a linha que corta o globo em dois hemisférios.
"É incrível que um imigrante negro brasileiro
tenha sido a primeira pessoa na história dos Estados Unidos a desafiar a
segregação em um tribunal. E é ainda mais incrível que ninguém saiba quem ele
é. Nos anos 1830s, em Boston, as pessoas sabiam quem ele era. No Brasil,
também", disse Belton à BBC News Brasil.
Também estudiosa da vida de Emiliano Mundrucu, a
historiadora americana Caitlin Fitz, professora da Northwestern University, diz
que não só o processo judicial era pioneiro, mas também a ação do casal no
barco.
O conhecido episódio em que o ex-escravizado Frederick
Douglass, um dos mais importantes ativistas negros da história americana,
entrou em um vagão exclusivo para brancos em um trem em Massachusetts e só saiu
removido à força ocorreu em 1841, quase uma década depois.
"Não é apenas o primeiro processo conhecido
contra a segregação no transporte, é também uma medida radical realmente ousada
de colocar seu corpo em risco, a bordo de um navio", afirma a americana.
O impacto do julgamento
Bem relacionado em Boston, Mundrucu foi representado
no julgamento por juristas de peso. Um deles era David Lee Child, renomado
abolicionista americano que falava português por ter atuado como diplomata em
Portugal e se tornou seu amigo próximo.
Outro foi o senador por Massachusetts Daniel Webster,
que depois veio a ser Secretário de Estado de três presidentes americanos
(Henry Harrison, John Tyler e Millard Fillmore).
O argumento central do processo era "quebra de
contrato", já que Mundrucu pagou a passagem mais cara, mas seus advogados
"também quiseram expor a inumanidade das práticas segregacionista",
escreve o historiador Lloyd Belton em seu artigo.
Como a segregação no transporte público não estava
prevista em lei, Child e Webster "tentaram representar Barker como um
aplicador desumano de regras arbitrárias", nota o historiador.
"Nenhuma senhora na terra de Deus, nenhuma pessoa
branca instruída teria sido submetida a tal tratamento. A cor dos Mundrucus era
sua única distinção", sustentou Webster, segundo os registros do processo
analisados por Belton.
Os advogados de Barker, por sua vez, rebateram dizendo
que a segregação nos barcos a vapor era prática comum na costa nordeste
americana, argumento que foi reforçado com depoimentos de capitães de navios de
Nova York e Rhode Island.
Além disso, eles usaram outras testemunhas para
reforçar que Emiliano e Harriet, embora não tivessem a pela escura, eram negros
e só convivam em seu ciclo social com pessoas negras. Na leitura de Belton, era
uma estratégia para indicar que Mundrucu "presumidamente conhecia seu
lugar na sociedade".
Em outubro de 1833, o júri condenou Barker a pagar uma
indenização de US$ 125 a Mundrucu. Mas o capitão conseguiu reverter a decisão
na Corte Judicial Suprema de Massachusetts, que considerou não haver provas de
que Barker havia explicitamente concordado que a família viajasse nas melhores
cabines. O brasileiro ainda foi condenado a pagar as custas processuais do
capitão.
Depois disso, nota Belton, o navio Telegraph passou a
ter a segregação racial escrita em sua política de preços, de modo que negros
só podiam comprar as passagens mais baratas, para viajar na cabine comum e mais
exposta do navio, enquanto os brancos só podiam comprar as mais caras, com
acesso às melhores cabines.
"Outro amplo impacto do caso é que a atitude
desafiadora de Mundrucu inspirou diretamente outros ativistas negros. David
Ruggles, ativista afro-americano muito famoso, fez exatamente a mesma coisa que
Mundrucu no mesmo barco alguns anos depois, em 1841", lembra o
historiador.
Segundo Caitlin Fitz, outras empresas de transporte
também passaram a prever expressamente em seus contratos a segregação racial
nos anos seguintes. Por outro lado, isso levou os ativistas a usarem argumentos
mais amplos contra o racismo nos processos judiciais, ou seja, indo além da
queixa de quebra de contrato.
"O processo movido por Mundrucu acaba sendo um
momento importante no desenvolvimento das táticas jurídicas dos ativistas. Ele
amplia seus horizontes, abre caminho para esses argumentos mais amplos que
atacam a própria base jurídica da segregação em si", afirma.
Por que
Mundrucu?
Antes
do processo judicial contra o capitão do navio, Mundrucu já havia sido pioneiro
ao ser o primeiro negro a ingressar em uma loja maçônica de Boston que até
então só aceitava brancos, conta Caitlin Fitz. Ela acredita que sua admissão
contou com o apoio de seu futuro advogado David Lee Child, que fez a tradução
da sua cerimônia de iniciação.
Na avaliação da professora, o caso de Mundrucu se
mostrou útil aos ativistas antissegregação por reforçar seu discurso de que a
opressão racial nos Estados Unidos era pior do que em qualquer outro lugar, inclusive
o Brasil.
O abolicionista inglês Edward Abdy, por exemplo, que
conversou com Mundrucu antes do julgamento, escreveu que o racismo sofrido por
ele em Boston "não era comparável a nada no seu país (Brasil)", ao
abordar o caso em seu Diário de residência e viagem nos Estado Unidos,
publicação de 1835 sobre a opressão racial americana.
Essa comparação, porém, era "muito
discutível", ressalta a professora. O Brasil foi o último país das
Américas a abolir a escravidão, em 1888.
"Mundrucu deu aos abolicionistas dos Estados
Unidos evidências para defender sua tese de que os Estados Unidos eram o pior
do mundo, no que diz respeito à escravidão e ao racismo. Essa é uma declaração
muito discutível, mas é politicamente útil para os abolicionistas americanos",
nota Fitz.
Para a professora, as conexões de Mundrucu e o modo
como o embate ocorreu a bordo do navio Telegraph sugerem que a ação pode ter
sido inclusive premeditada, em parceria com outros ativistas.
"Às vezes presumimos que esses atos de
resistência eram espontâneos, que Emiliano e Harriet ficaram com raiva (ao
reagir). Talvez tenham ficado com raiva, mas também eram pensadores políticos
estratégicos que estavam pensando com muito cuidado sobre a melhor maneira de
trazer mudanças nessas circunstâncias", acredita.
Quem moveu o processo contra o capitão foi Mundrucu,
mas Caitlin Fitz destaca a importância do papel de Harriet.
"Não sabemos muito sobre Harriet. Ela era uma
mulher de cor educada nascida em Boston. Podemos inferir que ela era bastante
aventureira, porque afinal se casou com um revolucionário brasileiro que ainda
estava aprendendo inglês. Era também incrivelmente corajosa e empenhada em
lutar pela igualdade racial, já que tentou repetidamente entrar na cabine de
senhoras, colocando seu corpo na linha de frente", nota a professora.
A volta
ao Brasil
Após a decisão favorável a Barker, a defesa de
Mundrucu preparava um recurso para a Suprema Corte americana quando ele decidiu
voltar ao Brasil em 1835 para retomar sua carreira no Exército. Isso foi
possível após o governo brasileiro perdoar os revolucionários da Confederação
do Equador, retirando a pena de morte contra ele.
Mundrucu, porém, ficou apenas alguns anos no Brasil,
retornando a Boston em 1841.
Embora tenha sido perdoado pelo governo regencial, o
exilado não foi bem recebido por todos, em especial em parte da elite branca
pernambucana, que guardava grande ressentimento da sua atuação revolucionária
em 1824. Isso porque Mundrucu era acusado de tentar atacar a população branca
abastada de Recife.
Até as recentes pesquisas de historiadores
estrangeiros sobre a vida de Mundrucu em Boston, o pernambucano era
pontualmente lembrado na historiografia brasileira por sua tentativa de trazer
para a Confederação do Equador o espírito da Revolução Haitiana — rebelião que
assombrava as elites brancas nas Américas.
Mesmo a recém-lançada Enciclopédia Negra, da Companhia
das Letras, que dedica um verbete a Mundrucu, não menciona a pioneira ação
judicial movida por ele nos Estados Unidos.
Marco Morel, autor do livro A Revolução do Haiti e o
Brasil escravista: O que não deve ser dito, é o historiador brasileiro que mais
investigou a trajetória do revolucionário no Brasil.
De acordo com ele, as principais lideranças da
Confederação do Equador pertenciam à elite branca administrativa e agrária, mas
houve alianças com segmentos oprimidos social e racialmente, caso de Emiliano
Mundrucu, que era major do Batalhão dos Pardos.
A partir de relatos da época, Morel conta em seu livro
que Mundrucu liderou o batalhão numa tentativa de revidar um ataque inesperado
das forças imperiais ao porto de Recife. Essa ação, porém, incluiria uma
agressão à elite branca.
Segundo o historiador, foi planejado um "ataque
ao comércio europeu nos bairros brancos centrais de Recife e o massacre dos
referidos comerciantes e da população branca abastada".
Com esse propósito, Mundrucu teria guiado sua tropa
pelas ruas da cidade entoando uma canção que buscava inspiração em Henry
Christophe, um dos principais líderes da Revolução Haitiana.
"Qual eu imito Cristóvão / Esse Imortal haitiano
/ Eia! Imitai o seu povo / Oh meu povo soberano", cantou o Batalhão dos
Pardos liderado por Mundrucu.
A intenção de atacar a população branca de Recife
atribuída a Mundrucu não se concretizou por divergências dentro da própria
Confederação, após o Batalhão de Pardos ser dissuadido pelo Batalhão de Homens
Pretos, do major Agostinho Bezerra Cavalcanti.
Ainda assim, o episódio seguiu forte na memória das
elites pernambucanas, que chamavam Mundrucu de "o segundo Calabar",
em referência a Domingos Calabar, que se uniu aos Holandeses contra Portugal na
invasão ao Nordeste durante o período colonial e tornou-se sinônimo de traidor.
Foi nesse contexto que Mundrucu retorna dos EUA e
sofre grande resistência para subir na carreira militar. Ele chegou a ser
indicado pelo governo regencial para comandar o Forte do Brum, importante
fortaleza em Recife, mas não conseguiu assumir o posto ao sofrer intensos
ataques de autoridades e oficiais pernambucanos.
Uma correspondência anônima, publicada com destaque no
Diário de Pernambuco em fevereiro de 1837, por exemplo, atacava as
qualificações de Mundrucu para o posto e afirmava que seus atos na Confederação
do Equador tiveram "um caráter tão ominoso, e deixaram tão profunda
sensação nos ânimos de todos os homens, que o seu Comando na Fortaleza do Brum
era um fundado motivo de sustos e sobressaltos; ninguém se julgava seguro em
seu sono e a desordem se pintava na imaginação de todos com a mais horrenda e
turva catadura."
Mais adiante, outro trecho do carta dizia que a
nomeação de Mundrucu para o posto militar estava "dando combustão aos
espíritos, dando lugar a que renasça das cinzas uma intriga, que muito convinha
não suscitar mais, porque há indivíduos que nenhum outro mérito alegam senão a
cor, como se essa devesse ser um privilégio para obterem empregos, para os
quais nem suas habilitações, nem o conceito que merece do público de modo algum
os qualificam".
Mundrucu reagiu ao texto anônimo com longa carta, em
que dizia que sua nomeação pelo governo buscava fazer valer a Constituição de
1824, para que "desapareça os prejuízos de classe, ou de Cores".
Porém, continuava ele, com esses prejuízos "reinando infelizmente nessa
província (de Pernambuco), mais que em nenhuma outra, não pode o autor do
comunicado, e outros de iníquos sentimentos, ver de bom grado um oficial pardo
em um lugar de distinção".
"Parece que no sentir destes só julgam os Pardos,
e Pretos, capazes nas ocasiões de crise ou de perigo", rebatia ainda
Mundrucu.
A carta evidencia como Mundrucu sentia que no Brasil,
assim como em Boston, o preconceito contra sua cor o oprimia e limitava sua
liberdade e suas conquistas.
Segundo Marco Morel, havia casos de outros homens
negros que assumiram postos de comando militar no período imperial, como Pedro
Pedroso, que foi comandante das armas em Recife no início do século 19.
Para ele, a resistência à nomeação de Mundrucu
refletiu o racismo da época, intensificado pela grande aversão que havia a
qualquer proximidade com ideais da Revolução Haitiana, um movimento que
significava a completa subversão da ordem escravista.
O historiador ressalta que a segregação racial, embora
no Brasil não fosse tão explícita como nos EUA, se manifestava no cotidiano do
país.
Morel descreve em seu livro, por exemplo, o episódio
em que o médico Joaquim Cândido Meirelles, um homem mulato, passou a ser também
acusado de "haitianismo" após se opor em 1829 à separação dos doentes
brancos e negros em alas diferentes da Santa Casa da Misericórdia do Rio de
Janeiro, determinada pela direção do hospital.
A
importância do resgate histórico de Mundrucu
"Quase 200 anos atrás um imigrante negro deu um
passo contra segregação nos Estados Unidos. Foi um momento muito importante na
história americana e, de alguma forma, nós nos esquecemos disso", constata
o historiador Lloyd Belton.
O que explica esse apagamento? Para historiadores, o
imigrante brasileiro — assim como outras lideranças negras — caiu no
esquecimento porque a história tem sido contada principalmente pelas elites,
que focam suas narrativas em si mesmas. É por isso que, tanto no Brasil quanto
nos Estados Unidos, os protagonistas históricos geralmente são homens brancos.
"Eu diria sobre o esquecimento do Mundrucu a
mesma coisa que digo sobre a Revolução do Haiti, que também é bastante
desconhecida no Brasil. Acho que é uma mistura de preconceito e ignorância, por
que o preconceito cria um bloqueio que gera uma ignorância", acredita
Marco Morel.
"As pessoas não falam dele hoje não é porque
sejam racistas, não falam porque não sabem que ele existiu. E não sabem que
existiu porque houve um racismo (no passado) que bloqueou isso", explica o
historiador.
Morel inicia o trecho sobre Mundrucu em seu livro o
definindo como "figura histórica ao mesmo tempo instigante e mal
conhecida". Agora, com as recentes descobertas sobre sua vida em Boston, o
historiador diz que ele ganha nova dimensão.
"Mundrucu entra para a galeria de personagens
históricos equivalente, por exemplo, ao marinheiro João Cândido, da revolta da
Chibata, ou ao jangadeiro Francisco Nascimento, o Dragão do Mar, ou ao
jornalista Luiz Gama", diz, citando renomados negros brasileiros
conhecidos por sua atuação pelo fim da opressão racial.
"São os heróis da plebe, que lutavam contra o
preconceito racial e pela justiça social. Então, eu acho que Mundrucu
finalmente está sendo reconhecido numa posição que sempre foi a dele",
reforça.
Especialista em escravidão e abolição no Brasil e
Estados Unidos, a professora de história da Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia Luciana Brito considera importante o resgate da história de Mundrucu
como exemplo de como os negros não aceitavam passivamente uma posição de
"subalternidade".
Ela crítica a narrativa histórica predominante no
Brasil por colocar os abolicionistas brancos como protagonistas da luta contra
a escravidão, quando havia muitas lideranças negras lutando contra o regime.
"Na nossa formação escolar e de senso comum sobre
as pessoas escravizadas, há uma fantasia da conformidade negra, dessa vontade
de servir. A realidade nos mostra, através da história, que não era bem
assim", afirma.
Para a professora, a história de Mundrucu nos Estados
Unidos não deve ser lida como evidência de que a opressão racial lá era pior
que aqui.
Na sua leitura, o Brasil não adotou um sistema
explícito de segregação como o americano — que chegou a contar com leis de
separação racial em vários estados — porque tinha um número muito maior de
negros livres aqui.
De acordo com o projeto The Trans-Atlantic Slave Trade
Database, um esforço internacional de catalogação de dados sobre o tráfico
negreiro, 389 mil escravizados desembarcaram nos EUA em navios vindos da
África, menos de 10% do total levado ao Brasil (4,9 milhões).
"No Brasil, desde sempre se pôde comprar alforria.
Então, no século 19 havia uma vasta população de negros libertos. Seria muito
perigoso para as elites brasileiras implementar o mesmo regime de segregação
que existia nos Estados Unidos, onde os negros eram uma minoria, como são até
hoje. Imagine o que é negar a cidadania para uma parcela da população
enorme", ressalta.
Segundo Brito, o grupo dos negros livres, tendo acesso
a direitos no Brasil, acabava funcionando como uma "barreira de
contenção" contra a rebelião racial. "Nas duas sociedades, o ideal
era ser branco, mas através de estratégias distintas", reforça.
Para Lloyd Belton, que pesquisa também a atuação de
outros imigrantes negros latino-americanos nos EUA, é preciso valorizar a
contribuição deles para a história americana, ainda mais considerando o aumento
do preconceito contra os latinos durante o governo de Donald Trump (2017-2021)
"A história do Mundruco mostra como bem
conectadas as Américas eram naquele tempo. O Brasil era conectado com a
Venezuela, a Venezuela era conectada com o Haiti, o Haiti com os EUA. Esses
ativistas negros eram uma população muito móvel. Podiam viajar, falar
diferentes línguas", nota Belton.
"E ele não era o único. Havia outros imigrantes
negros da América do Sul, do Caribe, que estavam em Boston, em Nova York, ou na
Filadélfia, e eles estavam envolvidos nessas comunidades ativistas que eram
muito cosmopolitas", diz.
Nas duas décadas finais de sua vida em Boston, o
brasileiro manteve-se atuante contra a escravidão e na luta pelos direitos
civis da população negra. Um das suas bandeiras foi o fim da segregação das
crianças em escolas exclusivas para brancos e negros.
Mundrucu morreu em 1863, depois do presidente Abraham
Lincoln assinar o Ato de Emancipação em janeiro daquele ano, determinando que
os escravos dos estados sulistas rebeldes eram livres e podiam lutar na guerra
civil entre o Norte e o Sul.
Segundo Belton, Mundrucu celebrou esse anúncio ao lado
de Frederick Douglass, em um encontro da Union Progressive Association, um
grupo abolicionista predominantemente negro do qual o brasileiro foi
vice-presidente.
"Em 1863, Mundrucu e sua esposa eram muito
respeitados por seus colegas bostonianos, negros e brancos. Ambos foram
homenageados em seus respectivos obituários, nos quais foram lembrados como
generosos, de espírito público e excepcionalmente viajados", ressalta
Belton em outro artigo sobre a vida do brasileiro.
Para Lloyd Belton, que pesquisa também a atuação de
outros imigrantes negros latino-americanos nos EUA, é preciso valorizar a
contribuição deles para a história americana, ainda mais considerando o aumento
do preconceito contra os latinos durante o governo de Donald Trump (2017-2021)
"A história do Mundruco mostra como bem
conectadas as Américas eram naquele tempo. O Brasil era conectado com a Venezuela,
a Venezuela era conectada com o Haiti, o Haiti com os EUA. Esses ativistas
negros eram uma população muito móvel. Podiam viajar, falar diferentes
línguas", nota Belton.
"E ele não era o único. Havia outros imigrantes
negros da América do Sul, do Caribe, que estavam em Boston, em Nova York, ou na
Filadélfia, e eles estavam envolvidos nessas comunidades ativistas que eram
muito cosmopolitas", diz.
Nas duas décadas finais de sua vida em Boston, o
brasileiro manteve-se atuante contra a escravidão e na luta pelos direitos
civis da população negra. Um das suas bandeiras foi o fim da segregação das
crianças em escolas exclusivas para brancos e negros.
Mundrucu morreu em 1863, depois do presidente Abraham
Lincoln assinar o Ato de Emancipação em janeiro daquele ano, determinando que
os escravos dos estados sulistas rebeldes eram livres e podiam lutar na guerra
civil entre o Norte e o Sul.
Segundo Belton, Mundrucu celebrou esse anúncio ao lado
de Frederick Douglass, em um encontro da Union Progressive Association, um
grupo abolicionista predominantemente negro do qual o brasileiro foi
vice-presidente.
"Em 1863, Mundrucu e sua esposa eram muito
respeitados por seus colegas bostonianos, negros e brancos. Ambos foram
homenageados em seus respectivos obituários, nos quais foram lembrados como
generosos, de espírito público e excepcionalmente viajados", ressalta
Belton em outro artigo sobre a vida do brasileiro.
Por Mariana Schreiber, na BBC News
- - - -
Adquira o seu livro na amazon.com.br. Para saber mais, clique aqui. |
- - - - -
A Coleção Mundo Contemporâneo: os livros infantis para pirralhos, adultos e idosos que preservam uma criança dentro de si.
A Coleção Mundo Contemporâneo contém 10 livros infantis. Cada um dos volumes aborda uma questão estratégica para o avanço da civilização.
O objetivo é oferecer às crianças e à juventude uma panorâmica sobre questões candentes da contemporaneidade, desafios que exigem atitude e posicionamento por parte dos que, amanhã, serão responsáveis por conduzir a humanidade e o planeta em direção à sustentabilidade.
Veja aqui as obras da Coleção:
1 - O sapinho Krock na luta contra a pandemia
2 - A onça pintada enfrenta as queimadas na Amazônia e no Pantanal
3 - A ariranha combate a pobreza e a desigualdade
4 - A hárpia confronta o racismo
5 - O boto exige democracia e cidadania
6 - O jacaré debate educação e oportunidades
7 - O puma explica trabalho e renda
8 - A anta luta contra o aquecimento global
9 - O tucano denuncia a corrupção e os narcoterroristas
10 - O bicho preguiça e a migração
Clicando aqui, você acessa a coleção em inglês.
A Coleção
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção Mundo Contemporâneo” e acesse os 10 livros da coleção.
O autor
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor.
- - - - -
A coleção da bruxinha serelepe:
1. Planejar
2. Organizar
3. Estudar
4. Exercitar
5. Leitura
6. Cultura
7. Meditar
8. Interagir
9. Fazer amigos
10. Respeito e motivação
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite " A Bruxinha de Mil Caras ensina a viver melhor” e acesse os 10 livros da coleção.
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor.
- - - - - - - - -
Veja os vinte livros da Coleção Ciência e espiritualidade para crianças:
Livro 2 - Panda Zen e o verdadeiro valor
Livro 3 - Panda Zen e as mudanças
Livro 4 - Panda Zen e a Maria vai com as outras
Livro 5 - Panda Zen e a estrelinha cintilante
Livro 6 - Panda Zen e a verdade absoluta
Livro 7 - Panda Zen e o teste das três peneiras
Livro 8 - Panda Zen e os ensinamentos da vovó
Livro 9 - Panda Zen e os cabelos penteados
Livro 10 - Panda Zen e a magia da vida feliz
Livro 11 - Panda Zen e as paixões enganosas
Livro 12 - Panda Zen entre a reflexão e a ação
Livro 13 - Panda Zen e o mais importante
Livro 14 - Panda Zen, a gota e o oceano
Livro 15 - Panda Zen e a indecisão
Livro 16 - Panda Zen e o vaga-lume
Livro 17 - Panda Zen e a busca da identidade
Livro 18 - Panda Zen entre o arbítrio e a omissão
Livro 19 - Panda Zen e o trabalho
Livro 20 - Panda Zen e a falsa realidade
Para saber mais, clique aqui. |
Click here to learn more. |
-----------
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Coleção Greco-romana com 4 livros; saiba aqui. |
Coleção Educação e Democracia com 4 livros, saiba aqui. |
Coleção Educação e História com 4 livros, saiba mais. |
Para saber sobre a Coleção do Ratinho Lélis, clique aqui. |
Para saber sobre a "Coleção Cidadania para crianças", clique aqui. |
Para saber sobre esta Coleção, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |
Para saber mais, clique aqui. |