Ainda hoje, 18 estados mantém o ensino apenas de maneira remota.
País está entre os que ficaram mais tempo sem aulas presenciais durante a pandemia.
Uma das primeiras medidas tomadas por governos de todo
o mundo no começo da pandemia de Covid-19, em março de 2020, foi o fechamento
das escolas. Após um ano, em 73 países os alunos ainda estão fisicamente longe
das salas de aula. O Brasil foi um dos países onde as escolas ficaram fechadas
por mais tempo e, ainda hoje, 18 estados mantém o ensino apenas de maneira
remota, enquanto os outros tentam equilibrar uma forma híbrida entre o
presencial e o ensino a distância.
"Isso tem um impacto muito profundo para as
crianças e adolescentes", diz Florence Bauer, representante do Unicef no
Brasil. Ela lembra que apesar de não ser a faixa etária mais afetada pela
doença é a que mais sofre com os efeitos indiretos da Covid-19.
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"Antes da pandemia, 1,3 milhão de crianças e
adolescentes em idade escolar já estavam fora da escola no Brasil. Com a
pandemia, os dados mostram uma evasão de aproximadamente 4 milhões de meninos e
meninas, ou seja, um total de mais 5 milhões de crianças e adolescentes
desvinculados da escola, que não estão participando de maneira regular",
diz a especialista citando dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) de 2020.
O risco, de acordo com Bauer, é que os números da
evasão escolar não mudem com o fim da pandemia e a reabertura das instituições,
já que, uma vez desvinculadas, as crianças acabam se envolvendo em atividades
de trabalho infantil, o que dificulta o retorno. "Isso está nos levando
para trás. Já calculamos que isso nos fez regredir duas décadas em número de
crianças e adolescentes desvinculados da escola", afirma.
Bauer defende que a educação remota funciona como uma
saída em períodos de pico - como o enfrentado pelo Brasil atualmente - mas não
substitui a presencial. "O que essa crise mostra é como a educação
presencial é fundamental", defende, lembrando os meios limitados que
dificultam a educação a distância no Brasil. "Tem a barreira da falta de
acesso à internet, da falta de equipamentos, da falta de privacidade",
diz.
Atividade essencial
Uma proposta das deputadas Adriana Ventura (Novo-SP),
Paula Belmonte (Cidadania-DF) e Aline Sleutjes (PSL-PR) para colocar a educação
entre os serviços essenciais durante a quarentena está em tramitação na Câmara
dos deputados. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se adiantou e
assinou em março um decreto no mesmo sentido, para a retomada das aulas
presenciais, o que acabou gerando pressão para a reabertura das escolas em um
momento crítico da pandemia.
Para Bauer, a educação tem que ser realmente
considerada como uma atividade essencial. "Por isso dizemos que as escolas
devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir", afirma. Um pico
como o que atravessamos justificaria o fechamento das escolas. "Você pode
fechar uma vez que todas as medidas foram tomadas. Fecham-se os transportes, as
praias, escritórios, restaurantes, bares, e todo o resto. Se tudo isso não der
certo, então talvez seja necessário suspender por um período as atividades
presenciais", explica.
Não foi o caso no Brasil, onde, durante o ano passado
e começo deste ano, a maioria dos estados abriu mão de confinamentos rígidos,
mas manteve os alunos longe das salas de aula. A expectativa era de uma volta
gradual a partir de janeiro, mas o agravamento da pandemia e a lentidão na
vacinação impediram a reabertura das escolas.
Protocolo
Bauer também sublinha que reabrir as escolas requer o
cumprimento de medidas que garantam segurança. "As escolas devem funcionar
com protocolos que incluem distanciamento físico, ventilação, lavagem de mãos,
uso de máscaras em todos os momentos. Estas medidas devem ser adaptadas à
realidade local e à situação epidemiológica."
Para isso, a coordenação e o diálogo entre
professores, alunos, famílias e os outros adultos que trabalham na escola e as
autoridades de saúde e educação do município é fundamental. "Para sentar
juntos e decidir quais são as melhores opções, adaptadas à realidade do
lugar", explica.
Todos os países do mundo, em algum momento, fecharam
suas instituições de ensino. Mas a América Latina foi a região com o período
mais longo de fechamento. "A média no mundo, segundo dados de janeiro, é
de duas semanas; na América Latina essa média é de 30 semanas", afirma.
Por RFI
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